terça-feira, 21 de agosto de 2018

“Com a força do pensamento”


       Em função da pouca (ou  nenhuma) formação escolar, o homem da campanha sempre teve suas crenças, seus temores e suas formas de alcançar seus objetivos, através das forças divinas ou até mesmo na busca da cura. Mas a inteligência natural da gente da terra supria a incultura com sua espontaneidade no trato da matéria espiritual.
       Dessa forma, deve haver um aproveitamento dos motivos folclóricos chegados até os nossos dias, e ainda, um intenso trabalho de conservação a sua forma tradicional.

[Fragmentos da obra FOLCLORE GAÚCHO: festas, bailes, músicas e religiosidade rural - J. C. Paixão Côrtes]

Foto: Paulo Renan Montiel


        No mês do folclore trarei algumas manifestações culturais que enfatizam o folclore. As temáticas dos grupos artísticos estão cada vez mais elaboradas e ricas, no que se refere a exploração de aspectos culturais. Dessa forma, através dessas manifestações, se torna  possível que as pessoas conheçam um pouquinho do folclore e da história do Rio Grande do Sul.
      Conversei com o Roger Soares Lemes, ele é responsável pela temática da Invernada Adulta do CTG Camaquã, que na Inter-regional do ENART, de 2018, apresentará o tema “Benzeduras, uma fusão de fés em torno da reza brava no RS”.

Foto: Deivis Bueno

 "Essa ideia surgiu por querer homenagear pessoas humildes que prestam esse serviço que é curar os males do dia a dia. Todos nós algum dia fomos carregados pelas mãos de nossos pais e avós ao encontro de uma pessoa, que com coisas simples do dia como brasa, carvão, arruda, tesoura, linha, agulha, etc., e com a reza sempre em Deus aliviou algum mal olhado, alguma espinhela caída, quebranto ou encalho” destaca, Roger.

            Durante a pesquisa, conversou com diversas benzedeiras e benzedores, bem como consultou vídeos e documentários, já que a bibliografia a respeito, não é muito abrangente.


Blog: Como foi a receptividade do grupo?
Roger: A temática foi apresentada ao grupo na festa de confraternização na cidade de Arambaré em fevereiro deste ano. Antes de mostrar o tema e a primeira música que já havia sido feita, fiz uma longa conversa falando de Deus e de fé. Temos no grupo uma variedade grande crenças e credos e até alguns ateus. Fizemos uma ampla discussão acerca deste assunto... Fé! Sempre acho importante quando vamos abordar esses temas que envolve algum tipo de religiosidade, deixar todos a vontade para aceitar ou não a participação deles.
         Imediatamente na abertura, todos gostaram e partimos para um segundo momento junto com o coreografo que era definir a trilha dentro do tema. Muitas vezes bons temas podem se perder por não achar o caminho certo. Numa temática como esta, temos muito o que falar, mas temos que entender o que falar e o que é importante mostrar no nosso enfoque.



            Sobre a coreografia de entrada, Roger enfatiza como ocorreu a formação dessa prática que é a conjunção de povos, os beneditinos (significa bem dizer) da Europa trouxeram seus defumadores e incensos para tirar os males do demônio, os pajés indígenas aqui também já benziam através dos seus cachimbos e a fumaça curava as angústias e então com o povo vindo da África e seus defumadores de barro formamos uma mistura de deuses, santos e orixás para ajudar nesta reza brava.
Foto: Wagner Zacher
        
            Na coreografia de saída contam a história das benzedeiras e benzedores propriamente ditos, mostrando um pouco dessa prática, mostrando a humildade desses bem feitores e como ocorre o processo da cura, através da energia, crença e fé.
Foto: Paulo Renan Montiel

           
A letra das músicas foi desenvolvida pelo Roger Lemes, com música de Alexandre Souza, de Rio Grande. As coreografias são de autoria do coreógrafo Ederson Vergara, que segundo Roger, desenvolveu um trabalho magnífico, atendendo ao pedido de não usar alegorias, mas, somente acessórios de mão.
          Os figurinos foram amplamente discutidos pelo grupo, que desenvolveu internamente todas as peças e ideias, buscando referências em Monges Europeus, Índios que habitaram o RS e a região onde hoje é Camaquã, e ainda, de roupas Africanas. No figurino de saída foram representadas, as várias formas de benzedores, tentando mostrar o universo das diversas personalidades e crenças que estas pessoas têm.

         Roger destaca ainda, que essa temática é, também, uma homenagem ao seu avô Alcides Soares e a sua mãe Cleni Soares que de geração em geração vem passando o legado que é ajudar pessoas com o poder da oração e a força das ervas.


Pesquisa: Roger Lemes
Poesias: Roger Lemes
Melodias: Alexandre Souza
Coreografias: Ederson Vergara
Figurinos e Adereços: Mariana Roloff e grupo
  


Fica o nosso carinho aos benzedores e benzedeiras do Rio Grande do Sul e a torcida pelo grupo do Centro de Tradições Gaúchas Camaquã – 16ª R.T.

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